Conhece Witbier? - Parte 2
- Pedro Conte
- 14 de nov. de 2016
- 3 min de leitura
Olá, Saudações cervejeiras,
Como prometido nessa segunda etapa da explicação sobre witbier trarei um pouco da história desse estilo. Se a sua intenção é apenas apreciar a cerveja, talvez não se interesse tanto por isto, mas posso te garantir que as histórias que existem por trás de cada estilo é tão fascinante quanto uma boa cerveja.
É interessante perceber como a história da cerveja e seus diversos estilos caminham juntos com a história da humanidade, um exercendo influência sobre o outro e se revesando nessa tarefa.
Confesso que isso é o que mais me atrai na cerveja artesanal, suas histórias, seus personagens, a amizade que existe e se cria em torno dela, o culto ao bom gosto e a paixão que, invariavelmente, muitas pessoas entregam a ela.
Particularmente devo muito às witbiers, foi meu segundo passo para dentro desse mundo das cervejas. Comecei a descobri-lo como a maioria, com as cervejas de trigo alemãs (weizenbier), mas meu segundo passo foi de fato decisivo e sem volta.
Vamos ver como foi o processo evolutivo até chegar nas witbiers de hoje.

Pois bem, o surgimento das witbier's remonta ao início do século XVI, principalmente na região de Hoegaarden, mas também nos arredores de Bruxelas, ambas na Bélgica. Essa região contava com um tratado diferenciado de livre tributação que conferia vantagem competitiva na exportação de seus produtos. Situação que impulsionou o surgimento de muitas cervejarias locais por lá, chegando a 38 delas no século XVIII.
Até meados do século XX todas as cervejarias belgas utilizavam barcos de resfriamento abertos, fato esse que era determinante para agregar a característica ácida e azeda aos estilos belgas, trazida por leveduras selvagens e bactérias que estavam no ambiente e se apropriavam no mosto não fermentado.
Quanto a fermentação haviam diferenças entre algumas regiões da Bélgica, em Hoegaarden, por exemplo, costumava-se fermentar de forma espôntanea um blend de três mostos, sendo um deles não fervido.
No entanto, diferentemente de outras cervejas belgas que também passavam por fermentação espontânea, as produzidas em Hoegaarden eram servidas jovens e não envelhecidas como as Lambics produzidas na região de Bruxelas, por exemplo.
O envelhecimento em Hoegaarden durava apenas de 8 a 15 dias, contra meses ou anos nas Lambics.
As cervejas de Hoergaarden eram de fato uma variação das Lambics, porém verdes (não maturadas), com apenas parte de suas características, já que muitos micro-organismos não dispunham de tempo para agir e deixar suas características na cerveja, pois estas eram servidas jovens.
Após a Segunda Guerra Mundial, muitos estilos primitivos de cerveja belga desapareceram, perdendo espaço para as lagers industrializadas. A witbier deixou de ser fabricada em 1957, pela última cervejaria que arriscava produzir esse estilo, a Tomsin. E nos anos 1960 mais de uma dúzia de estilos belgas se perderam. Nesse tempo, as lambics sobreviveram bravamente.
As pessoas estavam deixando de consumir as cervejas de fermentação espontânea e procuravam cervejas mais consistentes (com constâncias e repetibilidade) e modernas, que mantivessem suas características preservadas por mais tempo do que apenas alguns dias.
No entanto, uma das virtudes da extinção é a nostalgia e com esse cenário a esquecida cerveja clara de Hoegaarden pôde renascer pela iniciativa de Pierre Celis, ex-trabalhador da falida Tomsin, que ainda a trazia em sua memória.

Oito anos após a falência da Tomsin, Celis decidiu procurar alguma cervejaria que topasse reviver o estilo. As vendas retomaram em 1966, com o estilo renovado.
Logo no início chamou a cervejaria por Hoegaarden, em alusão à sua região e em 1978 mudou para De Kluis, numa tentativa de fazer uma relação (e confundir o público) com as cervejarias dos mosteiros trapistas e aumentar as vendas. Em 1985 sua empresa havia crescido 50 vezes e após um incêndio destruir a cervejaria, Celis vendeu uma parte majoritária da empresa para uma gigante local, a Stella Artois e se mudou para o Texas. Após a aquisição a cerveja voltou a usar o nome de Hoegaarden. Em 1990 a Stella Artois (InterBrew) comprou em definitivo o restante dos direitos de Celis.
A partir então, reinventado, o estilo gradualmente ganhou fama além das fronteiras de Hoegaarden até cair nas graças das grandes cervejarias dos EUA e nos dias de hoje é produzida por muitas das grandes.
Em 1992, no Texas, Pierre Celis fundou a Celis Brewery, que produz, até hoje, uma White Beer chamada Celis White e alguns outros estilos. Em 1995 a Millers Company (hoje MillersCoors) adquiriu a participação majoritária dessa cervejaria, em 2001 a fechou e vendeu a marca para Michigan Brewing Company.
Pierre Celis faleceu em 09 de abril de 2011 com 86 anos, quando já não atuava mais em cervejarias.
Cheers!!!
Fontes:
The Beer Bible - Jeff Alworth
The Oxford Companion to Beer - Garrett Oliver
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